terça-feira, 31 de março de 2009

Por um fio!!!


Como todos sabem não gosto de falar de tristeza e coisas ruins nesse espaço, mas o caso hoje é real e muito triste e acima de tudo preocupante...
Nesse fim de semana tive a notícia que uma amiga da minha tia, mas que era querida por todos, nos viu crescer,participou de momentos importantes junto com a nossa famíla, havia sido atingida por uma bala perdida( achada) no Rio de Janeiro, durante um assalto na Avenida Brasil. No ano passado uma vizinha da minha prima também passou pela mesma situação, uma menina de 8 anos, GRAÇAS A DEUS, ela sobreviveu, perdeu a visão do olho esquerdo, mas está bem.
Sorte que não teve a outra.
Fiquei pensando no quanto somos frágeis e indefesos diante do nosso destino.
Até quando teremos que conviver com esse tipo de coisa no BRASIL ? Não falo só pelo RJ, mas por todo um país onde o direito de ir e vir já não nos mais é assegurado pela sociedade!!!
Bem, encontrei essa crônica do Pedro Bial, que acho se encaixa muito bem nesse momento.


A MORTE

Por Pedro Bial

Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta & Planeta deram seus depoimentos.

Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada.
Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena.

Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e perplexidade, que é mesmo o que a morte causa em todos os que ficam.

A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo.

Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da
tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?

Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer.
A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu.
Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente.

De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis.

Qual é? Morrer é um cliche.

Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em
casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.

Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas
cuido eu.

Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e
morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito.
Isso é para ser levado a sério?

Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo.
Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz.

Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas.

Só que esta não tem graça.


A todos um beijo e uma ótima terça feira.

3 comentários:

Dulce Miller disse...

Oi Robertinha!
Eu também às vezes me pego pensando sobre a violência exarcebada nas nossas cidades e me sinto completamente impotente... Parece um problema sem solução, ao menos quem tem o poder de fazer com que as coisas comecem a mudar, parece não se importar ou tem outras prioridades... O que podemos fazer a não ser lamentar a cada dia, por alguém que conhecemos ou não? Que Deus nos proteja e nos guarde!


Beijos de bom dia, minha querida!

Letícia Alves disse...

Sim, somos frágeis! E ainda temos uma sensação de impotência diante de tamanha violência.
Que Deus sempre nos guarde!

Beijos Tempestuosos!

Rose disse...

Nós que somos seres normais sofremos com a tal da empatia.
Sofrer com o sofrimento alheio é realmente perturbador, não é?
Bala achada sim, pois perdida seria aquela bala que não achou uma vítima.
Bjs.

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